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Mudança de ares, de lugares e de frequência

 

Desde as últimas décadas do século XIX, eram incorporadas pela sociedade carioca novas maneiras de apropriação dos espaços públicos, ensaiadas junto com as reformas materiais da cidade do Rio de Janeiro empreendidas a partir do modelo urbano parisiense. Ao mesmo tempo, experimentavam-se novas formas de sociabilidade, de divertimento e de expressão cultural, entre outros aspectos, proporcionadas por hábitos e costumes advindos da popularização de recentes descobertas técnico-científicas.

 

No raiar do novo século, ano de 1900, já sob o regime republicano no Brasil, a Sociedade Germania transferiuse para sua sede própria localizada agora fora da região central, na Praia do Flamengo n. 60, seguindo junto com o Rio de Janeiro seu movimento de expansão urbana. Para este local o então prefeito Pereira Passos estenderia alguns anos mais tarde a charmosa Avenida Beira-Mar, como parte do seu plano de remodelação urbana que ligava a Zona Sul ao Centro da cidade. Esta transferência significou para a associação não apenas uma mudança de endereço, mas também uma mudança de sentido.

 

Cada vez mais o espaço público ou de uso coletivo se tornava um lugar privilegiado para encontros sociais de todas as ordens. Já havia algum tempo que a sede da Rua da Alfândega vinha tendo sua frequência reduzida e a proposta de mudança para o Flamengo, ainda que longe do centro comercial do Rio de Janeiro, foi bem recebida

pelos associados. Esta sede contava com uma animada programação, que incluía chás das senhoras, jantares, jogos de bolão e de carta, concertos, bailes, torneios de

Skat e Kabarett. Foi esta sede que Albert Einstein visitou por ocasião de sua estada no Rio de Janeiro em 1925.

 

O crescente número de associados fez com que a Sociedade Germania buscasse para si maior e mais adequado espaço. Em 1928, transferiu-se para um novo edifício vizinho a este, construído para abrigar a nova sede, na própria Praia do Flamengo n. 132. O clube intensificou suas atividades sociais e de seus terraços os associados puderam observar a passagem do Graf Zeppellin, assistir aos corsos de muitos carnavais ou acompanhar o adensamento e a posterior verticalização do bairro, movimento que assolaria a cidade como um todo ao longo do século XX. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial alteraria de forma dramática o curso da história da associação. Segundo o artigo 11, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 4166, de 11 de março de 1942, que dispunha sobre as indenizações para reparações contra danos de guerra, “os bens das sociedades culturais eu recreativas formadas de alemães, japoneses e italianos poderão ser utilizados, no interesse público, com autorização do Ministro da Justiça e Negócios Interiores.”

 

Com base nisto, em 22 de agosto de 1942 o prédio da Praia do Flamengo n. 132 pertencente à Sociedade Germânia foi confiscado pelo governo Vargas e posteriormente ocupado pela União Nacional dos Estudantes. No momento em que a situação se apresentara adversa, alguns sócios começaram a adquirir os bens da associação na tentativa de manter parte de seu patrimônio. Este movimento se intensificou após o confisco, quando alguns dos objetos foram localizados em posse de terceiros e nos depósitos do Ministério da Educação e Saúde. Após o fechamento da associação, seguiram-se dez anos de apagamento físico, porém não legal, da Sociedade Germania. Uma década em que a entidade não deixou de existir, já que alguns de seus antigos sócios mantiveram vivo seu ideal associativo.

 

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